Sunday, May 30, 2010

O Lama E O Economista - Diálogos sobre Budismo, Economia e Ecologia

[46] Muitas vezes me pergunto com ao visão econômica conseguiu se impor como referencial humano. A resposta que me ocorre é que essa visão não vem em substituição à sabedoria, mas como um avanço parcial. A sabedoria já estava perdida.

[63] "vamos deixar como está e tudo se arruma". "Qual é o atalho para evitarmos o sofrimento resultante das tensões que inevitavelmente surgirão?"

[66] No socialismo, é do estado o papel de pensar no outro, e é daí que surgirão as tensões entre cidadãos e a forca de estatal, que acaba se tornando totalitária. ... o estado depende de uma elite que entenda todo o processo e que esteja acima dos outros . Isso resulta em nova divisão.

[76] Todos os seres desejam a felicidade e todos desejam se afastar do sofrimento. Uma pessoa não consegue ser feliz sozinha. Precisa de uma transformação na consciência para gerar capacidade nas pessoas de beneficiarem umas às outras.
No budismo não se fala propriamente em economia, em dinheiro, mas em méritos e carmas. Para um bom desempenho econômico é preciso gerar méritos (ou seja, sermos capazes de produzir algo do interesse para os outros). Se o que produzimos é indispensável, a estrutura ira nos sustentar economicamente. Porém, nós nos enganamos em relação àquilo que efetivamente pode nos oferecer felicidade e segurança. Nesse sentido, a religião pode desempenhar um papel muito importante (papel da educação no socialismo)

[77] No caso do socialismo, o ensino será insuficiente se não levar à transcendência, pois a crise existencial não será resolvida e a compaixão, o afeto e a felicidade serão impossíveis. Nessas cricuntancias, as pessoas se voltam para o hedonismo, para o auto-centramento como fator determinante de seu interesse no mundo. ... Com isso exacerbamos nossa individualidade e não participamos de processos coletivos pelos quais poderíamos nos ajudar mutuamente a reduzir a ncessidade econômica individual sem perder a qualidade de vida. Para a sociedade que busca maximizar os números da economia, o pensamento hedonista se apresenta como vasto de oportunidade. O budismo andaria em outra direção: maximizar a satisfação em um nível mais profundo. Resultado: menos impacto ambiental, mais saúde, acesso à informação, previdência, equilíbrio. Para isso é preciso uma base estrutural. No socialismo: educação; no Budismo: realização espiritual - precisamos estar aptos a perceber uma forma de vida mais simples como vantagem.

[84] Hoje somos analfabetos espirituais ,não entendemos o que produz felicidade ou segurança. Ainda que tenhamos grande sofisticação técnica, falta visão e lucidez, e a barbárie está presente - destruindo o meio ambiente e as opções das gerações futuras.

[84] No budismo, só existimos por meio de relacionamentos com os outros e com tudo o que percebemos; assim, essas relações deveriam ser positivas. Dentro de uma cultura bárbara as pessoas se julgam independentes e isoladas, o processo de relação pouco importa, o que importa é ter algo que produza satisfação.

[105] José Lutzenberger disse que a biodiversidade é como uma teia de aranha. Quando se cortam os primeiros fios, parece que a teia não se ressente, mas depois de determinado estágio cada fio tem crescente importância e a teia pode entrar em colapso a qualquer momento. ...
As sementes dessa espécie única [sementes fabricadas pelas indústrias do agro-negócio] são fabricadas por poucas industrias. Se o sistema de produção de sementes falhar (não está mais nas mãos dos agricultores) haverá falha geral - é como ficar preso por único fio.

[113] A simplicidade gerada pelo caminho espiritual alivia a demanda sobre nosso ambiente, reduz nosso impacto ambiental. ... A conexão entre caminho espiritual, atividade econômica e proteção ambiental: sem o eixo espiritual, acreditamos que o acesso aos bens, ao consumo e ao poder é a única fonte de felicidade. Um sistema econômico em expansão, suicida e destruidor parece, paradoxalmente, a única alternativa para a felicidade.

Fonte:
O Lama E O Economista Diálogos sobre Budismo, Economia e Ecologia
Autor: Vitor Caruso Jr. (com lama Padma Samten)

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