Thursday, June 28, 2007

Sem Assunto

Felizes aqueles que não tem a obrigação de escrever, compor, pintar, falar etc com regularidade. Decidi que iria escrever pelo menos uma entrada (post) por dia em ao menos um de meus blogs e encontro-me, hoje, sem nenhum assunto motivante. Com será que agem os que escrevem colunas diárias?

Certamente quem escreve sobre política, pelo menos em nossa terra, tem uma variedade tamanha de assuntos e escândalos que o difícil, no caso, é escolher um entre os tantos acontecimentos. Isso ocorre também com textos de finanças. Basta observar a cotação do dólar, o movimento da bolsa de São Paulo e do mundo, os comentários dos formadores de opinião e pronto: tem-se uma coluna do tamanho necessário.

Mas e em um blog? Como fazer quando se falta assunto? Na verdade, por se tratar de uma atividade de lazer (ou, pelo menos, uma atividade sem cobrança de superiores - dado que eu escrevo para treinar minha fluência escrita com vista em escrever questões de prova), o tema pode ser qualquer um de minha escolha. Por isso, hoje, resolvi escrever sobre o tema de faltar um tema. Ou seja, uma meta entrada, escrevendo a respeito de como se faz para escrever o que se está escrevendo. Um recurso que se esgota em sua primeira utilização - ou não.

Fica a minha manifestação de respeito e admiração pelos artistas que, como os cantores, tem a obrigação de compor - mesmo sem a chamada "inspiração" - para montar a próxima obra. Será que a arte somente é arte quando precedida de inspiração? Ou as grandes obras humanas vêm mesmo é da necessidade de se fazer arte? Talvez não haja regras - arte é arte, e pronto! Mas isso é assunto para um outro momento, onde o assunto em si não seja o próprio assunto, como aqui o é. Parabéns aos artistas!

Carpe Diem,

Thursday, June 21, 2007

Outro Tipo de Luta

Em meu blog principal, há uma transcrição de um dos diálogos do filme Before Sunrise (ver Before Sunrise - Another Type of Fight). Nele, a personagem Celine se refere às lutas que enfrentamos no nosso dia-a-dia e em nossa evolução como seres humanos. Ela acredita que sempre temos inimigos, que podem ser concretos e visíveis ou obscuros e escondidos. Na geração de seus pais, esses inimigos eram o sistema capitalista (ou as políticas de governo) e as tradições católicas. Podemos dizer que, naquela época, a revolta era em relação aos padrões (e à ética) capitalistas advindos da revolução industrial e, um pouco mais antigos, aos padrões (e à ética) da fé cristã - pelo menos em sua transfiguração pós-iluminismo. Era uma revolta contra a repressão, em busca de uma liberdade coletiva e universalista. Uma busca de mudança dos padrões sociais vigentes para melhor refletir o pensamento da juventude.

No Brasil, tivemos uma situação similar na luta jovem contra a ditadura militar. Essa mesma juventude que, eleita, elaborou nossa constituição liberal de 1988. Estavam presentes, aqui, os mesmos elementos universalistas, e, talvez, até um pouco comunistas ou socialistas. Uma busca de liberdade e igualdade à Revolução Francesa, contra o imperialismo praticado pelos países do primeiro mundo e contra as restrições e repressões dos governantes. Uma busca de mudança dos padrões sociais (e políticos) vigentes para melhor refletir o pensamento da juventude.

A pergunta derivada do diálogo no filme é: a luta travada pela juventude da década de 1960/70 foi vencida? Ou o inimigo ainda existe? Ou existe um novo inimigo? Independente da resposta, uma coisa é certa: aquela juventude é quem hoje governa nosso país e, no geral, o mundo. De forma que as relações de poder, a cultura, as regras sociais e os valores que vemos presentes nos dias de hoje são, ou deveriam ser, justamente os trazidos pela juventude daquela época. Caso contrário, devemos assumir que nosso pais simplesmente desistiram de lutar.

Supondo que recebemos um mundo onde a luta pela liberdade já foi vencida, concluímos que nós, atual juventude, fomos agraciados pela geração anterior. Recebemos, de graça, o grande direito almejado por todos àqueles dias: o direito de escolha. Hoje podemos decidir o que fazer, para onde ir, com quem nos reunir, aonde ficar, quem namorar, nossa profissão, nossos partidos, nossos governos, nossos livros, nossos sexos, nossas músicas, nossas religiões, nossa realidade. Podemos mesmo?

Se podemos, por que não somos totalmente felizes? O que nos falta, além da liberdade? A resposta tange dois conceitos principais. Em primeiro lugar, a questão da guerra. Talvez, justamente por não termos um inimigo concreto e real e contra quem lutar, nos falta alguma coisa: a luta em si. Necessitamos, para sermos felizes, superar um realidade que nos sufoca e nos reprime. Somente após libertos desse inimigo, podemos gozar dos prazeres da real liberdade, aquela conquistada pelo nossos próprios méritos, esforços e batalhas.

O segundo ponto, talvez correlato, diz respeito à consciência da vitória. Se nós nunca tivemos de enfrentar dinossauros, como fizeram nossos antepassados, e nem mesmo nos lembramos que eles tiveram tal dificuldade, esse fato pouco nos acrescenta em prazer ou bem-estar. Se nós não vivemos a repressão e o toque de recolher das décadas passadas, para que ficarmos felizes por estarmos livres disso? E que mérito nós temos por vivermos em tal realidade?

A juventude atual vive dessa forma: buscando novas guerras e sem consciência das vitórias passadas. Donde vem a questão: por que precisamos lutar? Por que nos contentamos tão pouco com aquilo que já possuímos? Certamente recebemos diversas contribuições de nossos antepassados, tanto positivas quanto negativas. Entretanto, as vezes nos falta a sensibilidade de distinguir (1) o que podemos melhorar e, mais importante, (2) tudo o que o mundo já pode, agora, nos oferecer de bom. No filme, Jesse responde ao comentário de Celine de forma deveras simples: "eu não sei se realmente existe um inimigo". Ou seja, ele coloca em dúvida o imperativo da luta e abre a possibilidade de se aproveitar melhor a vida como ela é.

A resposta de Jesse leva à compreensão da principal mensagem do filme Shrek the Third (Shrek Terceiro): nós somos nossos próprios inimigos. De fato, com a ausência de adversários concretos contra os quais lutar - como governos tiranos e ideologias impostas - nossa busca por inimigos somente pode encontrar um: nós mesmos. Assim, hoje é raro uma reunião de pessoas articulando como aniquilar um problema comum - já que na falta de uma entidade visível, cada um acredita que seu problema é somente seu. Também é muito reduzido o número de pessoas que abdicam de seus momentos de lazer (cada vez mais fúteis e com mais alucinógenos) para refletir sobre como melhorar o mundo em que vivemos. Na verdade, o que vemos é cada um na sua, enfrentando seus próprios desafios (mesmo que esses sejam comuns a um grande grupo). É a geração do cada um por si. A geração do individualismo com roupagem coletivista. A geração que foge de si mesmo em excessos de trabalho, de drogas, de lazer, de relacionamentos. É a geração da auto-luta, contra tudo, contra todos e, no fundo, contra nada.

O lado positivo desta constatação é que, com uma simples mudança consciente de atitude, vencemos o inimigo e ele desaparece - basta escolher não ser mais seu inimigo. De forma que a grande resposta para nossa geração é buscar a consciência. Somente com consciência de nós mesmos e da realidade em que vivemos (se é que realidade existe), podemos escolher visando o nosso bem e o de todos. É uma questão de consciência e escolha [ver: [Education (Consciousness and Choice)] num mundo onde é o excesso de liberdade que pode aprisionar.

Vencida a guerra contra nós mesmos, a mesma liberdade ora atrofiante passa a caracterizar nosso grande potencial. A variedade amedrontadora de escolhas (profissão, trabalho, religião etc.) passa a indicar o quão grandiosos é aquilo que realmente escolhemos conscientemente. A quantidade astronômica de bens (tangíveis e intangíveis) disponíveis, assim como de seus preços e suas qualidades, resulta em nosso prazer de escolher deliberadamente somente o que nos agrada. Em uma escolha consciente de que alguns recursos são limitados, aprendemos a viver no eterno trade-off (solução de compromisso), abdicando conscientemente de algo (material ou não) em busca de outros bens (materiais ou não) melhores.

Muitos desafios do passado foram superados e as conquistas de nossos antepassados estão hoje disponíveis para o nosso bem. Nos cabe, agora, buscar mudanças nos padrões sociais (e políticos) vigentes para melhor refletir nosso pensamento de juventude. Somente então poderemos deixar nosso grande legado para as futuras gerações. Depois da geração do conhecimento, levaremos o mundo à geração do auto-conhecimento.

Carpe Diem,

Sobre o blog (*)

É importante mencionar que este blog em português é, de certa forma, mais pessoal que meu blog principal. Esse tende a ser um resumo do meu pensamento e do pensamento de outros, visando uma espécie de filosofia particular ou uma sabedoria geral (se isso pode existir). Aquele é um espécie de treino de escrita em português. Serve para praticar minha fluência nessa língua (e, analogamente, nas demais línguas dos outros blogs), minha fluência em expressão de idéias e meu raciocínio lógico expositivo.

De forma alguma todas as minhas opiniões aqui expressas podem ser consideradas corretas ou com alguma fundamentação nas principais opiniões da área. Com efeito, irei escrever o que me parecer certo no momento, sem preocupação em verificar se tudo está fundamentado. Mesmo as opiniões particulares podem ser meros recursos literários para facilitar a fluidez e a argumentação do texto em questão.

De resto, espero que seja de agrado de todos, assim como o é para mim.

Carpe Diem,

Monday, June 18, 2007

Santo Agostinho - Alma

[Extraído na íntegra de:

http://espaco-de-paz.awardspace.com/sta_poder_da_alma.html]


[English version at: Saint Augustine - On Magnitude of the Soul]


Santo Agostinho - O poder da alma sobre o corpo, nela mesma, e nos sete graus de sua magnitude (retirado do livro "Sobre a Potencialidade da Alma")

Quem dera podermos perguntar essas coisas a um sujeito muito sábio, e que também fosse eloquente, e homem perfeito na virtude. Imagino o que ele poderia nos ensinar, explicando sobre o poder da alma no corpo, em si mesma e diante de Deus, de quem ela, enquanto se mantém na virtude, está muito próxima, e nele tem todo o bem e o sumo bem.

Mas, faltando alguém aqui que nos ensine, atrevo-me a não decepcionar a sua vontade de saber, e isso é de algum modo um exemplo do que pode a alma, quando eu experimento assim até onde posso saber.

Inicialmente, limite a sua expectativa, nem suponha que vou falar tudo sobre a alma (ou que inclua os princípios vitais vegetativo e sensitivo) mas falarei somente da alma humana racional, a única digna de referência, se é que nos preocupamos connosco mesmos.

Primeiro grau

A alma, como podemos ver em todos os seres humanos, vivifica com sua presença este corpo terreno e mortal, ela unifica-o, e o mantém organizado como corpo vivo, e não permite que se dissolva nos elementos de sua composição orgânica. Faz com que os alimentos sejam igualmente distribuídos na conservação de todo o organismo, conserva a harmonia e proporção dos membros, não só em sua aparência, como no crescimento e reprodução.

Mas estas coisas podem ser entendidas como comuns aos homens e às plantas (= vida vegetativa), pois vemos e sabemos que a espécies vegetativas conservam as suas estruturas, também se alimentam, e reproduzem segundo a sua espécie.

Segundo grau

Suba mais um pouco e contemple o poder da alma em relação à vida sensível, onde o viver é manifesto de modo mais evidente. E não devemos dar atenção a não sei que tipo de impiedade, inteiramente bruta, e mais de madeira que as plantas, cujos defensores dizem que a videira sofre quando se colhem uvas, ou que planta sente o corte dos ramos, inclusive escuta e vê. Não é hora de falar de tal erro sacrílego.

Como eu tinha proposto, observaremos o poder da alma humana sobre os sentidos corporais e sobre o movimento do corpo, naquilo que este corpo é animado, e sob tais aspectos nada temos a ver com as espécies que fixam raízes no solo.

Concentra-se a alma no tacto, e por meio dele sente e identifica o quente e frio, o áspero e o suave, o duro e o macio, o leve e o pesado. E saboreando, cheirando, ouvido e vendo, distingue inúmeras diferenças de gostos, cheiros, sons e formas. Apetece ali o que lhe agrada à natureza corporal, repelindo o que desagrada. Por algum tempo se retira dos sentidos, recuperando as forças no descanso, onde deixa correr livremente a imagem das coisas obtidas pelos sentidos, e o faz no sono e nos sonhos. Através do exercício, movimenta-se prazerosamente, compondo a harmonia dos membros. Enquanto possível, procura a união dos sexos, e da natureza de dois faz uma só, no amor e na sociabilidade. Não só gera filhos, como os abriga, protege e alimenta. Acostuma-se ao meio ambiente, e às coisas que lhe sustentam o corpo, das quais dificilmente se quer afastar, como se fossem uma parte sua. E à força do costume, que nem a separação das coisas impede, chama-se memória (sensível).

Ainda assim, ninguém pode negar que os irracionais também fazem todas estas coisas sensíveis (vida sensitiva).

Terceiro grau

Suba mais um grau, e chegue ao terceiro, este próprio do homem. Pense na lembrança de coisas inumeráveis, não decorrentes apenas do costume, ou dos hábitos repetidos, mas da intenção aplicada nas coisas intencionalmente pretendidas, e na conservação de tantas coisas obtidas. São muitas variedades de artes e técnicas, no cultivo dos campos, na construção de cidades, e realizações de todos os tipos de grandezas produzidas. Invenção de tantos signos representativos, na escrita, nos gestos e na palavra proferida. Em todos os sons criativos, como na pintura e na escultura, na variedade de idiomas, nas instituições sociais, em tanta coisa nova surgida sempre, como na recuperação de outras. Na variedade de livros, e em todos os monumentos erguidos e entregues ao cuidado das gerações futuras. Na variedade de ocupações, nos poderes constituídos, nas honras e dignidades, seja na família como na sociedade. Nas cerimónias profanas e sagradas, na paz e na guerra, e tudo produzido pela humana potência de raciocínio e imaginação. Pense na caudalosa produção oratória, na arte poética, e muitas outras criações destinadas à diversão, aos desportos, à prática musical, a precisão da arte de calcular, e as conjecturas do futuro a partir das realizações do presente.

Grandes são estas coisas próprias somente do ser humano. Ainda assim, serão comuns aos estudiosos e aos ignorantes, aos bons e aos maus.

Quarto grau

Passe ao quarto grau, onde começa a bondade e o louvor verdadeiro. Aqui a alma ousa sobrepor-se não somente ao corpo — que é parte integrante do universo — mas ao mesmo universo. Não considera coisas suas os bens deste mundo, aprende a estimar sua potência e beleza acima destes bens, pois distingue os valores, e menospreza os bens apenas terrenos. Quanto mais aproveita o uso destes bens, tanto mais deles se afasta, libertando-se de toda a imperfeição, fazendo-se mais pura e mais perfeita, fortificando-se contra tudo o que pode afastá-la do seu propósito e decisão. Aprecia o convívio social, não deseja a outrem o que não quer para si mesma, obedece à legítima autoridade e aos preceitos dos mais sábios, reconhecendo que Deus fala por meio deles.

Nesta nobre actividade da alma existe ainda muito esforço e muita luta contra os empecilhos e seduções do mundo. No mesmo esforço pela sua purificação, existe ainda um certo medo da morte, pequeno às vezes, e muito grande em certos casos. Mas deve crer seguramente que todas as coisas estão sob a guarda e providência justa de Deus, e não há morte acontecida sem justiça, mesmo quando causada pela maldade humana (e somente às almas inteiramente purificadas é dado ver como isso é verdadeiro). Mas se teme a morte a este ponto, já estando no quarto grau, ou será por ter uma fé ainda fraca na providência justa, ou por menor tranquilidade interior — necessária para entender o que parece difícil — ou porque a tranquilidade é perturbada pelo medo.

Progredindo neste grau, ela conhece sempre mais a diferença entre a alma purificada e a pecadora, e tanto mais receia que, deixando esse corpo, menos a possa Deus suportar machada, que ela a si mesma nesse estado. E não há nada mais difícil que temer a morte e afastar as ciladas do mundo, como exigem as situações perigosas decorrentes.

Mas é tão grande a alma, que pode fazer tudo isso com a protecção de Deus sumo e verdadeiro, cuja justiça conserva e governa o universo. E tal justiça conservadora faz com que as coisas não somente existam, mas existam numa forma que não pode ter outra melhor.

Encomenda-se a Deus, piedosa e confiante, para que Ele ajude seu aperfeiçoamento, no difícil trabalho da purificação.

Quinto grau

Uma vez chegada ali, isto é, estando a alma livre de toda imperfeição, e purificada de seus pecados, alegra-se finalmente nela mesma, nada mais teme, nem se intranquiliza por coisa alguma, a menor que seja, nos assuntos interiores.

Este é o quinto grau. Uma coisa é procurar a pureza de coração, outra coisa é já ter atingido esse estado. Coisa distinta é a acção com que ela mesma se purifica do mal, outra coisa é não consentir mais no pecado.

Nesse estado ela pode entender plenamente sua grandeza, e, estando convencida, tender realmente para Deus, com imensa e inaudível confiança, ou seja, tender à contemplação mesma da verdade, e ao altíssimo e secretíssimo prémio pelo qual se esforçou tanto.

Sexto grau

Mas a tendência a compreender aquilo que realmente é a alma, e o é de modo mais sublime, vem a ser também a mais alta expressão da alma, e nada existe mais perfeito, melhor e mais correcto. Este é o sexto grau de sua actividade. Uma coisa é purificar o olhar da mente, para não olhar inútil e temerariamente, na visão errada. Outra coisa é conservar e reafirmar a sua integridade moral. E outra ainda é dirigir o olhar da mente de modo sereno e adequado ao que deve ser visto.

Os que tentam fazer isso sem antes estarem purificados e íntegros são ofuscados pela mesma luz da verdade, a ponto de desacreditarem em algo de bom, e na mesma verdade. E censurando a medicina da purificação, refugiam-se em alguma paixão ou prazer miserável, nas trevas que esta enfermidade os obriga. E por isso diz o profeta muito acertadamente e por divina inspiração: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em minhas entranhas o espírito de rectidão” (Sb 50,12).
Entendo que espírito de rectidão é o que impede a alma de se desviar e falsear na procura da verdade. E ele não se renova se ela antes não tiver a pureza, ou seja, se o pensamento não se afasta antes de toda paixão, purificando-se do ranço das coisas mortais.

Sétimo grau

Certamente é a mesma visão e contemplação da verdade o que constitui o sétimo grau, o mais elevado grau da alma, e já não é um grau, é certa mansão ou morada onde se chega através dos graus.

E nem sei com que palavras dizer das alegrias do bem supremo e verdadeiro, ou que inspiração terá a alma em sua serena eternidade. Grandes almas e de insuperável santidade falaram nisso, quando julgaram oportuno. Cremos que também viram tudo isso, e continuam vendo eternamente.

Ouso dizer isso de modo claro. E se nos conservamos no rumo que Deus manda seguir, e ali mantivermos a constância, chegaremos pelo poder divino à Sabedoria de Deus, Virtude de Deus, suprema causa e supremo autor, princípio supremo de todas as coisas, seja como for o modo que usamos para falar de algo tão elevado.

Entenderemos então como são verdadeiras as coisas nas quais nos mandaram crer, e como a Igreja nos alimentou saudavelmente como nossa mãe, e qual o proveito do leite da doutrina que São Paulo diz ser dado aos pequenos (1Cor 3,2). Quando alguém ainda precisa do leite materno, é útil receber tal alimento. Seria vergonhoso depois de crescido. Desprezá-lo quando se precisa dele é lamentável. Criticar o alimento ou detestá-lo, é criminoso e ímpio. Porém, conservar e distribuir convenientemente o alimento, é louvável prova de amor.

Veremos também que a natureza corpórea sofre mudanças e dificuldades, obedecendo neste mundo à lei divina, mas cremos na ressurreição da carne, na qual alguns acreditam muito pouco, e outros negam, mas a temos como absolutamente certa, mais que a certeza de que o sol do ocaso nascerá novamente no outro dia.

Mas existem os que ousam fazer troça da humanidade de Cristo, assumida pelo poderoso, eterno e incomutável Filho de Deus. E a estes desprezamos, como a crianças que, vendo um artista que reproduz imagens gravadas, imaginam que só podemos pintar uma figura humana copiando de uma outra.

É tão grande a alegria de contemplar a verdade, seja sob que aspecto a contemplemos, é tamanha a perfeição, a fé inabalável nas coisas verdadeiras, que ninguém suporá ter sabido realmente alguma coisa ante, ao supor saber algo, sem ter contemplado a verdade ela mesma.

E para que a alma não seja impedida de se unir completamente à verdade, desejaria então — como recompensa suprema — a morte que antes temia, ou seja, desligar-se totalmente deste corpo.

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