Tuesday, October 2, 2007

Brasil de Compromisso

O descobrimento do Brasil marcou o início de um período de domínio bastante claro das minorias. Em primeiro lugar vieram os portugueses e a submissão dos povos indígenas. Em seguida, em um movimento puramente cosmético, obtivemos nossa independência. Algum tempo depois, tínhamos a república.

Apesar de obtidas com facilidade, essas mudanças só foram possíveis graças a um fator comum: a existência de uma elite coesa com poderes suficientes para dominar todo o território nacional. Foram os portugueses, as elites luso-brasileiras, os barões do café. Somente no período seguinte, no Estado Novo, essa equação se desfaz.

Nos anos de Vargas, inexistia no país uma elite econômica ou política, com objetivos congruentes, capaz de manter a unidade e governabilidade em todo o território. Com a derrocada dos preços do café, principalmente após o crack de 1929, vários grupos se organizavam na tentativa de alcançar o poder: as elites agrárias da situação e oposição na República Velha, a nascente burguesia industrial, a classe média e urbana, os operários e os militares.

Esses, dada a sua organização, hierarquia e presença nacional, foram fundamentais para a revolução. Mas não suficientes! Os demais grupos forçaram um estado de compromisso, no qual Vargas tornava-se, habilmente, a figura de unidade. Surgia o populismo com culto à figura do ditador e com crescente participação das massas (pela primeira levada ao primeiro plano da política). Nascia um novo Brasil. Um brasil órfão, com uma elite difusa. Até quando?

Carpe Diem,

Friday, September 28, 2007

Alma Imoral

Na peça Alma Imoral, Clarice Niskier interpreta ela mesma em uma resposta as suas escolhas filosóficas. Baseada no texto do rabino Nilton Bonder, o espetáculo pode ser resumido com uma frase: não há tradição sem traição.

Mais que isso, também não há traição sem tradição. Na disputa entre o certo e o errado, percebemos que não existe nem um nem outro. Toda evolução que gerou o estado atual partiu de rompimentos com as realidades anteriormente impostas. De forma que a única tradição possível é a ausência desta, uma constante mudança.

Na mesma linha, é possível analisar o significado de fidelidade. Nem sempre a traição é infidelidade e, muitas vezes, ao sermos fiéis, estamos traindo aqueles com quem nos relacionamos - impedindo as mudanças. Na medida que toda infidelidade se baseia em contratos, são justamente esses contratos que precisam ser constantemente revistos para refletir a nova realidade em mutação. Também, a própria lei é um privilégio a determinado ponto de vista, que deve, de tempos em tempos, ser revista.

A paz é mais que somente a ausência de guerras. A estabilidade é mais que a ausência de mudanças. A paz e a estabilidade, tão necessárias, são muitas vezes o verdadeiro entrave para a verdade. Ou não.

Carpe Diem,

Wednesday, September 26, 2007

Desapego

Na peça "Homens são de marte... e é prá lá que eu vou!", com Mônica Martelli, a protagonista passa um tempo em Caraiva, onde aprende a técnica do desapego. Nada muito misteriosa, a técnica consiste, simplesmente, em se libertar de vínculos exagerados com bens materiais. Ao perder seu óculos da moda, Fernanda percebe quão difícil é se desapegar das coisas.

Em viagem, certo amigo perdeu uma câmera fotográfica com diversas fotos já tiradas. Se lembrou de um ditado budista - algo como: "deixa ir o que tem que ir". Descansou com a perda e, sentindo-se melhor, seguiu viagem. Uma boa alma devolveu-lhe a máquina em seu hotel e ele recuperou as fotos.

De fato, não é tão simples assim ter seus bens perdidos de volta - não basta se desapegar. Entretanto, dado que já os perdemos, a atitude mais feliz para praticar é "deixar ir". Não encontrando o que perdemos, ficamos bem. Encontrando, melhor ainda. Tal técnica também nos ajuda a agir melhor com pessoas: amigos e amores.

Na verdade, nada ou ninguém é de ninguém. Como diria Paulinho da Viola em Meu Mundo É Hoje: Pois sei que além de flores, nada mais vai no caixão.

Carpe Diem,

Wednesday, September 19, 2007

Línguas

As vezes nos perguntamos como se dão as evoluções lingüísticas. Por exemplo, por que em inglês o futuro é construído com o auxiliar "will" e no português existe um tempo verbal próprio?

Uma resposta é a origem do tempo futuro em português. Nessa língua, o futuro do presente e o futuro do pretérito são formados pela aglutinação do infinitivo do verbo com as formas reduzidas do verbo haver (no presente e no imperfeito do indicativo). Assim, amarei vem de amar + hei, e amaria vem de amar + hia (por havia). Com isso, tudo parece fazer mais nexo. A diferença primordial é que, em português (e em espanhol) houve essa aglutinação - talvez até devido ao auxiliar estar posposto ao verbo principal - enquanto em inglês permaneceu a construção antiga.

Essas diferenças nos ajudam a perceber o caráter evolutivo das línguas e como, no geral, elas começam bastante similares. Por razões culturais (por exemplo, um povo pode ter mais preferência pela aglutinação que o outro) ou conseqüências de uma escolha distinta (escolher, por exemplo, colocar o auxiliar antes ou após o verbo) as línguas tomam rumos totalmente distintos.

Dada a evolução constante das formas de comunicação, algumas escolhas subjetivas (como usar somente a palavra "dedo" em português e "finger / toe" em inglês), no longo prazo, podem tornar as semelhanças de hoje em algo totalmente distinto no futuro. Daí a importância da história.

Carpe Diem,

Monday, September 17, 2007

Motivação

Comida! Essa era a grande motivação para os milhões de trabalhadores expulsos dos campos, no século XVIII, para a nascente indústria européia. E hoje, como motivar?

É o sentimento de fazer parte de um todo maior o que aumenta o desempenho da maioria das pessoas. Você não é somente mais um, diria um gerente, você está trabalhando para o crescimento da empresa; e tudo que somos hoje se deve a sua colaboração. Chegaram a dizer algo semelhante até para faxineiros e copeiros. Um exagero! Mesmo sabendo que todos têm, certamente, uma função útil.

A conquista da criatividade e dedicação da maioria dos empregados ruiu com o fim da estabilidade. Quando um discurso de valorização de mão-de-obra, alguns meses depois, gera uma demissão em massa, tudo fica vago e difuso. E o trabalhador, buscando o mínimo de segurança, passa a se qualificar não para atender necessidades de seu empregador, mas para facilitar sua absorção pelo concorrente. Como estimular, agora, esse novo tipo de ser humano?

Você é sócio! Dizem, atualmente, os gerentes: tudo que você contribuir para nosso negócio, depois que nos proporcionar crescimento e maior fluxo de caixa, será revertido, também, para seu bolso. Pronto! Resolvemos o problema da motivação. Dizem até que a secretária do início da Microsoft é, hoje em dia, milionária. Obviamente, muito ela ralou para tornar realidade a gigante do software mundial - sendo bem recompensada por isso.

O que chama a atenção, porém, é a grande quantidade de sócios que o são somente no papel. Não têm, nunca tiveram ou mesmo terão, qualquer vantagem por isso. Talvez, até, trabalhem significativamente mais do que a maioria que não usufrui de tal prerrogativa. Como, estatisticamente, poucos são os casos de sucesso em um mar de fracassos, faz-se necessário a real análise dos fatos. A motivação deve estar bem fundamentada para proporcionar, a longo prazo, um trabalho criativo e eficaz, além de guiar no caminho para o sucesso. Só atenção com o trabalho exclusivamente em troca de comida!

Carpe Diem,

Friday, September 14, 2007

Renan e a Justiça

O caso Renan Calheiros anda revoltando a sociedade brasileira. Como será que o Senado teve a audácia de absolvê-lo depois de tamanha seqüência de escandalos? Como ignorou excelsa quantidade de provas, documentos e depoimentos que o condenavam? Como foi capaz de calar a boca da população brasileira e da mídia que clamavam por justiça?

Na verdade, não houve escandalo! Tudo foi criado, principalmente pela mídia. E a população, como sempre, foi atrás. Isso não é uma defesa de Renan, mas uma constatação do estado de direito em que vivemos. Por exemplo: é negado a qualquer pessoa desobedecer a constituição, mesmo que considere a lei inconstitucional. Isso porque, se cada um tiver o direito de julgar se uma norma está correta ou não, e obedecê-la segundo sua vontade, o estado entre em caos. Daí a função exclusiva do STF de julgar o que é ou não constitucional.

Se a mídia, em sua atribuição democrática de fornecer informação, encontra evidências de corrupção, é louvável que tudo seja informado ao cidadão. Isso ocorreu incessantemente nos últimos meses, quando, semana após semana, novos fatos eram noticiados. A questão principal é: tais fatos provam a culpa? Certamente não, já que não é a imprensa, e nem sequer a população, quem tem o direito de julgar! No caso Renan, era justamente o Senado quem tinha esse direito legal: absolver ou condenar. Como o orgão responsável relevou de culpa o senador, nos cabe aceitar tal decisão. Ou lutar, democraticamente, para alterar o processo de julgamento. Ou levar, pelo meios cabíveis, as supostas provas para o Poder Judiciário e policial, e conseguir abertura de processo criminal contra o senador.

O principal problema, neste caso, advém da falta de confiança do povo brasileiro em seu corpo político. De forma que, ao menor sinal de corrupção, os envolvidos são automaticamente considerados, por todos, como culpados. Onde foi parar o direito de presunção da inocência em nosso país?

Carpe Diem,

Thursday, September 13, 2007

Guerra

A história da Europa é marcada profundamente por disputas internas. Guerras e mais guerras assolaram o continente que dominava o mundo até o século XIX. Certamente o domínio se estenderia até os dias de hoje se, ao invés de gladiarem entre si, os europeus tivessem se mantido unidos.

Esse mesmo fato vem se repetindo na história. As cidades gregas, mesmo podendo expandir seus território, permaneciam em disputas entre elas. Idem para Japoneses e Chineses. Essa aparente contradição é reflexo de como os governos vêem o mundo e a natureza humana.

Na visão idealista, o homem é considerado naturalmente bom, e existe a noção de uma comunidade internacional governada pela Justiça. Outro ponto de vista, o realista, é cético quanto as qualidades morais do ser humano. O conflito, aqui, é visto como latente, derivando a necessidade de proteção constante contra agressões: impera o conceito de segurança.

A Balança de Poder (equilíbrio de poder) que determinou a política européia pós Napoleão, é um exemplo prático da visão realista. Foi essa visão que levou o mundo as grandes guerras do século XX e à busca da construção de uma comunidade internacional via ONU.

O medo do vizinho impede alianças que seriam benéficas para todas as partes. Como na Teoria dos Jogos, no exemplo dos dois prisioneiros (se um entrega o outro, sai livre e o outro pega pena máxima; se os dois se entregam, pegam pena média; se ninguém é entregue, ambos saem livres), os estados cismam em apostar na traição do vizinho e agem de forma a se proteger. Essa proteção, mais cedo ou mais tarde, leva à guerra.

A evolução das Organizações Internacionais são um passo na formação de uma comunidade internacional segura. Parece, de tempos em tempos, que na ausência de uma Entidade central de proteção (um Leviatã) as nações, assim como seus habitantes, são incapazes de um convívio fraterno.

Carpe Diem,

Wednesday, September 12, 2007

O (Des) Emprego

Pode-se dividir as escolas econômicas em duas: clássicas e keynesianas. A primeira prega um estado minimalista enquanto a segunda aposta no poder da intervenção estatal. Por trás dessas correntes existe um detalhe crucial: o desemprego.

Os clássicos idolatram o mercado: em liberdade, os agentes econômicos são plenamente capazes de chegar a um equilíbrio ótimo. Ocorre o famoso encontro entre oferta e demanda onde, coeteris paribus (outras variáveis constantes), um aumento na oferta, com a mesma demanda, gera um redução dos preços; e vice-versa. Para essa escola, quanto menos o estado intervir, melhores as condições para o crescimento.

No outro lado, existem os seguidores de John Maynard Keynes, que defende a plena atuação estatal. Keynes elaborou sua teoria nos anos 1930, durante a grande depressão pós 1929. Como, nessa época, havia alto nível de desemprego e o mercado, sozinho, parecia incapaz de solucionar os problemas econômicos, o estado se tornava o grande salvador: ao aumentar o gasto estatal, a renda aumentaria, alavancando o crescimento. Por muito tempo tal foi, exatamente, a receita seguida pelos governantes.

As duas teorias são igualmente válidas, sendo unicamente o desemprego - tanto de mão-de-obra quanto de capacidade produtiva - quem irá determinar a escolha de uma ou de outra. Em pleno emprego, a intervenção estatal gera um aumento na demanda por produtos e serviços que não pode ser acompanhada por um aumento na produção: temos inflação sem aumento de renda. No caso do desemprego de recursos, um maior gasto estatal torna mais eficiente o uso da capacidade instalada, aumentando a renda nacional.

Como, na maior parte do tempo, os países se encontram em um patamar intermediário entre pleno emprego e desemprego recessivo, a solução é conjunta. Os governantes devem estimular o uso e a expansão da capacidade produtiva (investindo, principalmente, em infra-estrutura) e intervir minimamente em mercados onde existe equilíbrio entre oferta e demanda.

Carpe Diem,


Tuesday, September 11, 2007

Oração de São Francisco

Senhor, Fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio que eu leve amor,
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão,
Onde houver discórdia, que eu leve a união,
Onde houver dúvida, que eu leve a fé,
Onde houver erro, que eu leve a verdade,
Onde houver desespero, que eu leve a esperança,
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria,
Onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, Fazei que eu procure mais:
Consolar que ser consolado,
Compreender que ser compreendido,
Amar que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive
Para a Vida Eterna

(Extraído de http://esoterico.terra.com.br/vidainterior/interna/0,,OI1079339-EI5930,00.html)

Longo Prazo

Dinheiro é um facilitador de trocas. Ao invés de trocar maças por TV, troca-se coisas por dinheiro. Mas dinheiro também é uma coisa. E troca-se dinheiro por dinheiro, no tempo.

Tudo que tem valor pode ser considerado capital (dinheiro), terra ou trabalho. A grande parte da população do planeta dispõe, basicamente, da oferta de sua mão-de-obra. Poucos podem usufruir de rendimentos por suas terras. Porém, uma boa parte pode se utilizar, ao menos em pequena escala, dos rendimentos de capital: os juros.

Uma vez com dinheiro (obtido pela venda de trabalho ou de outra forma) tem-se, em geral, duas opções: comprar ou poupar. Comprando, a pessoa obtem a utilidade de seu capital instantaneamente. Poupando, posterga-se a satisfação e, mais importante, abrem-se as portas para usufruir dos juros. Se dinheiro fosse banana, os juros seriam o preço da banana. Ou seja, deixando o seu dinheiro aplicado com juros, em algum tempo ele tende a valer proporcionalmente mais que no presente.

Dois problemas surgem: quanto poupar e como poupar. Na falta de uma bola de cristal, fica impossível saber se a utilidade (ou felicidade) de se gastar dez dinheiros agora é maior ou menor do que se gastar vinte dinheiros amanhã - uma conta que cada um, na sua particularidade, deve ser capaz de realizar. O como é, talvez, mais perturbador: sabendo que o melhor seria poupar, a tentação de gastar é ensurdecedora. Esse é o caso daqueles que somente conseguem poupar quando não existe o que poupar - pois já gastaram tudo. Talvez para esses, a infelicidade presente (ao se poupar) seja sempre infinitamente superior a qualquer felicidade futura.

Conhecendo a si mesmo, essas contas ficam cada vez mais fáceis e, com um pouco de treinamento, a utilidade de se gastar no futuro começa a render felicidade também no presente. O importante é nunca esquecer de computar o quanto vale o seu dinheiro: os juros!

Carpe Diem,

Monday, September 10, 2007

A Porta Estreita

Ela deu um pé na bunda dele!

E ele resolveu afogar as mágoas no bar. Encontrou alguns conhecidos e bebeu umas cervejas. De lá foi convidado para uma partida de poker e foi apresentado ao pó. No álcool, no jogo e nas drogas foi esquecendo seu antigo amor e encontrou paz. Hoje tenta se livrar dos vícios e tomar um rumo na vida. Tudo parece difícil e os prazeres que encontrava são cada vez mais vazios e sem sentido.

E ele sofreu a perda de seu amor. Ficou em casa alguns dias, cabisbaixo, e foi consolado por alguns amigos. Aos poucos procurou outras atividades que foram lhe dando prazeres cada vez maiores. Estudava, corria, praticava esportes e dedicava-se mais ao trabalho. Hoje está com diversas opções para dar rumo a sua vida.

A porta estreita é estreita apenas na entrada, depois torna-se um caminho amplo. A outra porta, ou a ausência de porta, parece larga no início, mas fica estreita logo-logo.

Carpe Diem,

Wednesday, August 29, 2007

Fases do Domínio Cognitivo

1) Conhecimento - o aluno repete o que a memória fixou. É a fase mais simples. (Definir, repetir, apontar, inscrever, registrar, marcar, recordar, nomear, relatar, sublinhar, relacionar, enunciar)

2) Compreensão - exige memória mais um certo grau de interpretação. Reflete memória + vivência. (Traduzir, reafirmar, discutir, descrever, explicar, expressar, idetificar, localizar, transcrever, revisar, narrar)

3) Aplicação - exige reflexão sobre o uso. O aluno irá analisar e criticar o que ocorreu. Exige memória + vivência + uso. (Interpretar, aplicar, usar, empregar, demonstrar, dramatizar, praticar, ilustrar, operar, inventariar, esboçar, traçar)

4) Análise - exige reflexão sobre o uso. O aluno irá analisar e criticar o que ocorreu. Exige memória + vivência + uso + reflexão. Aqui pode ocorrer o ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action). (Distinguir, analisar, diferenciar, calcular, experimentar, provar, comprar, criticar, investigar, debater, examinar, categorizar)

5) Síntese - é um momento mais evoluído e complexo. Aqui o aluno internaliza os conhecimentos, aplicando regras e começando a desenvolver conceitos próprios. É uma fase mais evoluída da interpretação. Na fase 2 se interpreta o que existe; aqui a interpretação passa a ser criativa e elaborativa. O aluno planeja, cria, constrói. (Compor, planejar, esquematizar, formular, coordenar, conjugar, reunir, construir, criar, erigir, organizar, dirigir, prestar)

6) Crítica ou avaliação (julgamento) - o aluno é capaz de assumir posicionamento crítico diante das coisas. Se o momento anterior é de raciocínio e criatividade interna, este é o de raciocínio e criatividade externa, pois o aluno coloca no mundo (para fora) sua capacidade de analisar e, em seguida, resolver problemas. A resolução dos problemas poderá ser através de (a) soluções conhecidas ou (b) soluções criativas. (Julgar, avaliar, taxar, validar, selecionar, escolher, valorizar, estimar, medir)


(Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas - pag. 436)

Sistema SQ3R de Estudo

S - Survey / Procura (É um exame prévio do que se procura. Aqui se cria a curiosidade mental sobre o que será estudado. Funciona como uma preparação para o estudo.)

Q - Questions / Perguntas (É realizar um conjunto de perguntas a serem respondidas. É se questionar sobre o que se quer aprender ou buscar.)

1R - Read / Leitura (É ler o texto para ter noção global. É uma leitura rápida, sem preocupação com a compreensão total. É um "sobrevôo" pelo texto.)

2R - Read / Leitura (A idéia aqui é a leitura "normal". Nesse ponto já se pode ler com mais calma e procurar entender o livro através de conceitos pessoais.)

3R - Review / Revisão (Significa rever o texto verificando-o e procurando fixar os pontos mais importantes e ver se foram sublinhados os pontos principais.)


(Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas - pag. 280)

Santo Agostinho - O peso do amor

(...) O corpo, devido ao peso, tende para o lugar que lhe é próprio, porque o peso não tende só para baixo, mas também para o lugar que lhe é próprio. Assim o fogo encaminha-se para cima, e a pedra para baixo. Movem-se segundo o seu peso. Dirigem-se para o lugar que lhes compete. O azeite derramado sobre a água aflora à superfície; a água vertida sobre o azeite submerge-se debaixo deste: movem-se segundo o seu peso e dirigem-se para o lugar que lhes compete. As coisas que não estão no próprio lugar agitam-se, mas, quando o encontram, ordenam-se e repousam.

O meu amor é o meu peso. Para qualquer parte que vá, é ele quem me leva. (...)

(Confissões de Santo Agostinho - Livro XIII - Cap. 09)

Santo Agostinho - Tarde Vos amei!

Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco!

Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse Vós. Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez! Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o, suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz.

(Confissões de Santo Agostinho - Livro X - Cap. 27)

Friday, August 17, 2007

O Sistema de Produção e as Raizes do Brasil

Sobre o sistema de produção escravista no Brasil: "não há especialização do trabalho porque se procura economizar a mão-de-obra". Busca-se executar o trabalho em um máximo de tempo, não em um mínimo - como tão ferrenhamente idealizado pela burguesia européia.

(Baseado em texto do Manual do Candidato - História do Brasil - Flávio Campos & Mirian Dolhnikoff - ed. Funag - p. 37)

Foi sobre esse sistema escravocata (certamente cruel e desigual, que fique claro!) que nascia, com algumas poucas vantagens comparativas, a sociedade brasileira. Na falta de uma defesa realista de nossa cultura local, acabamos incorporando idéias estrangeiras sem o devido juízo de valor. Faz-se necessário, portanto, ressaltar nossas heranças positivas.

Apesar do ataque ideológico europeu, o escravismo sempre teve suas qualidades. Por exemplo, no lado social, não existe demissão de um escravo (abandonando-o à própria sorte e fome) e ele não é explorado exaustivamente (mesmo que para conservá-lo para futuros trabalhos) - realidades essas que massacravam o proletariado europeu. Mesmo sob a ótica do capital comercial (que, inclusive, iniciou a exploração escrava no Brasil), o escravismo era o sistema mais lucrativo para a atividade agrícola per se. (Poderia não o ser para a atividade comercial manufatureira imperialista.)

E qual a vantagem no prolongamento do tempo de trabalho? Certamente a disciplina no dia-a-dia do escravo. Ou seja, existia, já naquela época, uma preocupação no uso do tempo: evitando as tragédias da mente ociosa. A praga do desemprego mostra como, mesmo em nosso moderno século XXI, tal problema social encontra-se ainda vivo.

Essa mesma cultura do prolongamento de tempo de trabalho acabou enraizada em outra classe social brasileira: os trabalhadores livres. Nascia a morosidade funcional como forma de ocupação. E, como reflexo, estimulou-se a já atrativa cultura do favor: como o serviço é lento para todos, a concessão de favores pessoais na forma de um serviço ágil e eficiente está aberto somente para os amigos.

Assim, surgiu a sociedade brasileira. Estamentada em Senhores, Escravos e Livres. Entre senhor e escravo a relação é clara: exploração do trabalho em troca da preservação do capital humano. Entre senhores e livres, imperava a troca de favores: a eterna busca de vantagens pessoais entre os pouco-favorecidos e os todo-poderosos. Na ausência de (ou na própria falta de incentivo para) uma atividade eficiente, prevaleceu o trabalho expandido no tempo. É a morosidade que infesta nossa sociedade até o presente. Mas que tem seu grande ponto positivo: gera ocupação da mão-de-obra, disciplina, emprego e uma certa paz social. E, para alguns poucos: lucro.

Carpe Diem,

Wednesday, August 8, 2007

Teoria dos 5S

A teoria dos 5s defende a prática das seguintes atividades:

1. Sort - O desnecessário é removido - Utilidade

2. Set in Order - Um lugar para tudo e tudo em seu lugar - Organização

3. Shine - Limpa-se após/durante utilização - Limpeza

4. Standardize - Métodos de limpeza são aplicados consistentemente - Higiene

5. Sustain (Self-discipline) - 5S é um hábito continuamente aperfeiçoado - Auto-disciplina

As traduções dos nomes em português - retiradas do livro Como Passar em Provas e Concursos (por Willian Douglas / pag. 221) - podem ser memorizadas pela seqüência AEIOU (ignorando o H de higiene e forçando o E - que é usado para estudo no livro - a ser limpEza).

O fato é: funciona. Estou aplicando primordialmente para meus estudos (como sugerido no livro), mas diversas facetas da vida são agraciadas pela utilização da técnica. Por exemplo, na cozinha: sujou, limpe - e mantenha limpo. Não usa mais, jogue fora. Simples assim.

Ao ver o estado de desorganização presente, podemos nos abster de realizar a limpeza inicial - tão necessária. E, mesmo após o sacrifício inicial, deferimos a manutenção da limpeza: falta de higiene. O que falta é auto-disciplina! Conscientes da necessidade de cada um dos 5s, a vontade (intenção + ação) vem naturalmente.

Pratique (ou observe) e os benefícios impulsionarão sua auto-disciplina.

Carpe Diem,

Thursday, July 26, 2007

Formas de Inteligência

Inteligência lógica (matemáticos)
Inteligência lingüística (escritores)
Inteligência espacial (arquitetos)
Inteligência musical (músicos)
Inteligência corporal (atletas)
Inteligência interpessoal (vendedores)
Inteligência intrapessoal (estar bem consigo mesmo)

(Fonte: Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas - pag. 121)

Tenha consciência de suas vantagens comparativas e aproveite-as. E busque sempre o aprimoramento de todas as formas de inteligência.

Carpe Diem,

Inteligência

Inteligência é a capacidade de adaptação

Inteligência é a capacidade de buscar a felicidade

Inteligência é a capacidade de raciocínio e abstração

(Fonte: Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas - pag. 118)

AIDA

Forma eficaz de comunicação: gerar AIDA

Atenção
Interesse
Desejo
Ação / Reação

(Fonte: Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas - pag. 537)

Guerra

No caso da vida (ou concurso/prova) ser encarada como uma guerra: SOMEU

S
Simplicidade
Surpresa (criatividade)
Superioridade de Forças (fontes de autoridade)
O
Objetivo
Organização
M
Meios (físicos e psicológicos)
Manobra (condução da vida e do conhecimento)
E
Execução (vontade = intenção + ação)
U
Unidade

(Baseado em: Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas)

5 Mulheres

Para o pensamento jurídico, sempre considerar a opinião de 5 Mulheres:

1) A Lei
2) A Doutrina
3) A Jurisprudência
4) A Justiça
5) A Mãe

(fonte: Como Passar em Provas e Concursos - Willian Douglas)

É sempre positivo buscar a opinião de outros conhecidos quando se analisa uma idéia. Há quem possua um conselho virtual de notáveis para auxiliar em decisões complexas. Por exemplo: o pai, um amigo de infância, um professor, um líder carismático etc. Eleja o seu conselho e, imaginando o seu debate, as respostas aparecerão.

Carpe Diem,

Português

Em leitura do livro Como Passar em Provas e Concursos (de Willian Douglas) fala-se de palavras mágicas em redação. Gostei de duas:

1) lato sensu (= sentido amplo)
A mulher é um homem, lato sensu...


2) mutatis mutandis (mudadas as coisas que devem ser mudadas):
Um homem é uma mulher, mutatis mutandis...


Nada como alguns macetes para causar impacto positivo e facilitar as coisas.

Carpe Diem,

Monday, July 2, 2007

Paz

A paz (tudo de bom) é a experiência do amor (poder) de Deus (do Universo).

Thursday, June 28, 2007

Sem Assunto

Felizes aqueles que não tem a obrigação de escrever, compor, pintar, falar etc com regularidade. Decidi que iria escrever pelo menos uma entrada (post) por dia em ao menos um de meus blogs e encontro-me, hoje, sem nenhum assunto motivante. Com será que agem os que escrevem colunas diárias?

Certamente quem escreve sobre política, pelo menos em nossa terra, tem uma variedade tamanha de assuntos e escândalos que o difícil, no caso, é escolher um entre os tantos acontecimentos. Isso ocorre também com textos de finanças. Basta observar a cotação do dólar, o movimento da bolsa de São Paulo e do mundo, os comentários dos formadores de opinião e pronto: tem-se uma coluna do tamanho necessário.

Mas e em um blog? Como fazer quando se falta assunto? Na verdade, por se tratar de uma atividade de lazer (ou, pelo menos, uma atividade sem cobrança de superiores - dado que eu escrevo para treinar minha fluência escrita com vista em escrever questões de prova), o tema pode ser qualquer um de minha escolha. Por isso, hoje, resolvi escrever sobre o tema de faltar um tema. Ou seja, uma meta entrada, escrevendo a respeito de como se faz para escrever o que se está escrevendo. Um recurso que se esgota em sua primeira utilização - ou não.

Fica a minha manifestação de respeito e admiração pelos artistas que, como os cantores, tem a obrigação de compor - mesmo sem a chamada "inspiração" - para montar a próxima obra. Será que a arte somente é arte quando precedida de inspiração? Ou as grandes obras humanas vêm mesmo é da necessidade de se fazer arte? Talvez não haja regras - arte é arte, e pronto! Mas isso é assunto para um outro momento, onde o assunto em si não seja o próprio assunto, como aqui o é. Parabéns aos artistas!

Carpe Diem,

Thursday, June 21, 2007

Outro Tipo de Luta

Em meu blog principal, há uma transcrição de um dos diálogos do filme Before Sunrise (ver Before Sunrise - Another Type of Fight). Nele, a personagem Celine se refere às lutas que enfrentamos no nosso dia-a-dia e em nossa evolução como seres humanos. Ela acredita que sempre temos inimigos, que podem ser concretos e visíveis ou obscuros e escondidos. Na geração de seus pais, esses inimigos eram o sistema capitalista (ou as políticas de governo) e as tradições católicas. Podemos dizer que, naquela época, a revolta era em relação aos padrões (e à ética) capitalistas advindos da revolução industrial e, um pouco mais antigos, aos padrões (e à ética) da fé cristã - pelo menos em sua transfiguração pós-iluminismo. Era uma revolta contra a repressão, em busca de uma liberdade coletiva e universalista. Uma busca de mudança dos padrões sociais vigentes para melhor refletir o pensamento da juventude.

No Brasil, tivemos uma situação similar na luta jovem contra a ditadura militar. Essa mesma juventude que, eleita, elaborou nossa constituição liberal de 1988. Estavam presentes, aqui, os mesmos elementos universalistas, e, talvez, até um pouco comunistas ou socialistas. Uma busca de liberdade e igualdade à Revolução Francesa, contra o imperialismo praticado pelos países do primeiro mundo e contra as restrições e repressões dos governantes. Uma busca de mudança dos padrões sociais (e políticos) vigentes para melhor refletir o pensamento da juventude.

A pergunta derivada do diálogo no filme é: a luta travada pela juventude da década de 1960/70 foi vencida? Ou o inimigo ainda existe? Ou existe um novo inimigo? Independente da resposta, uma coisa é certa: aquela juventude é quem hoje governa nosso país e, no geral, o mundo. De forma que as relações de poder, a cultura, as regras sociais e os valores que vemos presentes nos dias de hoje são, ou deveriam ser, justamente os trazidos pela juventude daquela época. Caso contrário, devemos assumir que nosso pais simplesmente desistiram de lutar.

Supondo que recebemos um mundo onde a luta pela liberdade já foi vencida, concluímos que nós, atual juventude, fomos agraciados pela geração anterior. Recebemos, de graça, o grande direito almejado por todos àqueles dias: o direito de escolha. Hoje podemos decidir o que fazer, para onde ir, com quem nos reunir, aonde ficar, quem namorar, nossa profissão, nossos partidos, nossos governos, nossos livros, nossos sexos, nossas músicas, nossas religiões, nossa realidade. Podemos mesmo?

Se podemos, por que não somos totalmente felizes? O que nos falta, além da liberdade? A resposta tange dois conceitos principais. Em primeiro lugar, a questão da guerra. Talvez, justamente por não termos um inimigo concreto e real e contra quem lutar, nos falta alguma coisa: a luta em si. Necessitamos, para sermos felizes, superar um realidade que nos sufoca e nos reprime. Somente após libertos desse inimigo, podemos gozar dos prazeres da real liberdade, aquela conquistada pelo nossos próprios méritos, esforços e batalhas.

O segundo ponto, talvez correlato, diz respeito à consciência da vitória. Se nós nunca tivemos de enfrentar dinossauros, como fizeram nossos antepassados, e nem mesmo nos lembramos que eles tiveram tal dificuldade, esse fato pouco nos acrescenta em prazer ou bem-estar. Se nós não vivemos a repressão e o toque de recolher das décadas passadas, para que ficarmos felizes por estarmos livres disso? E que mérito nós temos por vivermos em tal realidade?

A juventude atual vive dessa forma: buscando novas guerras e sem consciência das vitórias passadas. Donde vem a questão: por que precisamos lutar? Por que nos contentamos tão pouco com aquilo que já possuímos? Certamente recebemos diversas contribuições de nossos antepassados, tanto positivas quanto negativas. Entretanto, as vezes nos falta a sensibilidade de distinguir (1) o que podemos melhorar e, mais importante, (2) tudo o que o mundo já pode, agora, nos oferecer de bom. No filme, Jesse responde ao comentário de Celine de forma deveras simples: "eu não sei se realmente existe um inimigo". Ou seja, ele coloca em dúvida o imperativo da luta e abre a possibilidade de se aproveitar melhor a vida como ela é.

A resposta de Jesse leva à compreensão da principal mensagem do filme Shrek the Third (Shrek Terceiro): nós somos nossos próprios inimigos. De fato, com a ausência de adversários concretos contra os quais lutar - como governos tiranos e ideologias impostas - nossa busca por inimigos somente pode encontrar um: nós mesmos. Assim, hoje é raro uma reunião de pessoas articulando como aniquilar um problema comum - já que na falta de uma entidade visível, cada um acredita que seu problema é somente seu. Também é muito reduzido o número de pessoas que abdicam de seus momentos de lazer (cada vez mais fúteis e com mais alucinógenos) para refletir sobre como melhorar o mundo em que vivemos. Na verdade, o que vemos é cada um na sua, enfrentando seus próprios desafios (mesmo que esses sejam comuns a um grande grupo). É a geração do cada um por si. A geração do individualismo com roupagem coletivista. A geração que foge de si mesmo em excessos de trabalho, de drogas, de lazer, de relacionamentos. É a geração da auto-luta, contra tudo, contra todos e, no fundo, contra nada.

O lado positivo desta constatação é que, com uma simples mudança consciente de atitude, vencemos o inimigo e ele desaparece - basta escolher não ser mais seu inimigo. De forma que a grande resposta para nossa geração é buscar a consciência. Somente com consciência de nós mesmos e da realidade em que vivemos (se é que realidade existe), podemos escolher visando o nosso bem e o de todos. É uma questão de consciência e escolha [ver: [Education (Consciousness and Choice)] num mundo onde é o excesso de liberdade que pode aprisionar.

Vencida a guerra contra nós mesmos, a mesma liberdade ora atrofiante passa a caracterizar nosso grande potencial. A variedade amedrontadora de escolhas (profissão, trabalho, religião etc.) passa a indicar o quão grandiosos é aquilo que realmente escolhemos conscientemente. A quantidade astronômica de bens (tangíveis e intangíveis) disponíveis, assim como de seus preços e suas qualidades, resulta em nosso prazer de escolher deliberadamente somente o que nos agrada. Em uma escolha consciente de que alguns recursos são limitados, aprendemos a viver no eterno trade-off (solução de compromisso), abdicando conscientemente de algo (material ou não) em busca de outros bens (materiais ou não) melhores.

Muitos desafios do passado foram superados e as conquistas de nossos antepassados estão hoje disponíveis para o nosso bem. Nos cabe, agora, buscar mudanças nos padrões sociais (e políticos) vigentes para melhor refletir nosso pensamento de juventude. Somente então poderemos deixar nosso grande legado para as futuras gerações. Depois da geração do conhecimento, levaremos o mundo à geração do auto-conhecimento.

Carpe Diem,

Sobre o blog (*)

É importante mencionar que este blog em português é, de certa forma, mais pessoal que meu blog principal. Esse tende a ser um resumo do meu pensamento e do pensamento de outros, visando uma espécie de filosofia particular ou uma sabedoria geral (se isso pode existir). Aquele é um espécie de treino de escrita em português. Serve para praticar minha fluência nessa língua (e, analogamente, nas demais línguas dos outros blogs), minha fluência em expressão de idéias e meu raciocínio lógico expositivo.

De forma alguma todas as minhas opiniões aqui expressas podem ser consideradas corretas ou com alguma fundamentação nas principais opiniões da área. Com efeito, irei escrever o que me parecer certo no momento, sem preocupação em verificar se tudo está fundamentado. Mesmo as opiniões particulares podem ser meros recursos literários para facilitar a fluidez e a argumentação do texto em questão.

De resto, espero que seja de agrado de todos, assim como o é para mim.

Carpe Diem,

Monday, June 18, 2007

Santo Agostinho - Alma

[Extraído na íntegra de:

http://espaco-de-paz.awardspace.com/sta_poder_da_alma.html]


[English version at: Saint Augustine - On Magnitude of the Soul]


Santo Agostinho - O poder da alma sobre o corpo, nela mesma, e nos sete graus de sua magnitude (retirado do livro "Sobre a Potencialidade da Alma")

Quem dera podermos perguntar essas coisas a um sujeito muito sábio, e que também fosse eloquente, e homem perfeito na virtude. Imagino o que ele poderia nos ensinar, explicando sobre o poder da alma no corpo, em si mesma e diante de Deus, de quem ela, enquanto se mantém na virtude, está muito próxima, e nele tem todo o bem e o sumo bem.

Mas, faltando alguém aqui que nos ensine, atrevo-me a não decepcionar a sua vontade de saber, e isso é de algum modo um exemplo do que pode a alma, quando eu experimento assim até onde posso saber.

Inicialmente, limite a sua expectativa, nem suponha que vou falar tudo sobre a alma (ou que inclua os princípios vitais vegetativo e sensitivo) mas falarei somente da alma humana racional, a única digna de referência, se é que nos preocupamos connosco mesmos.

Primeiro grau

A alma, como podemos ver em todos os seres humanos, vivifica com sua presença este corpo terreno e mortal, ela unifica-o, e o mantém organizado como corpo vivo, e não permite que se dissolva nos elementos de sua composição orgânica. Faz com que os alimentos sejam igualmente distribuídos na conservação de todo o organismo, conserva a harmonia e proporção dos membros, não só em sua aparência, como no crescimento e reprodução.

Mas estas coisas podem ser entendidas como comuns aos homens e às plantas (= vida vegetativa), pois vemos e sabemos que a espécies vegetativas conservam as suas estruturas, também se alimentam, e reproduzem segundo a sua espécie.

Segundo grau

Suba mais um pouco e contemple o poder da alma em relação à vida sensível, onde o viver é manifesto de modo mais evidente. E não devemos dar atenção a não sei que tipo de impiedade, inteiramente bruta, e mais de madeira que as plantas, cujos defensores dizem que a videira sofre quando se colhem uvas, ou que planta sente o corte dos ramos, inclusive escuta e vê. Não é hora de falar de tal erro sacrílego.

Como eu tinha proposto, observaremos o poder da alma humana sobre os sentidos corporais e sobre o movimento do corpo, naquilo que este corpo é animado, e sob tais aspectos nada temos a ver com as espécies que fixam raízes no solo.

Concentra-se a alma no tacto, e por meio dele sente e identifica o quente e frio, o áspero e o suave, o duro e o macio, o leve e o pesado. E saboreando, cheirando, ouvido e vendo, distingue inúmeras diferenças de gostos, cheiros, sons e formas. Apetece ali o que lhe agrada à natureza corporal, repelindo o que desagrada. Por algum tempo se retira dos sentidos, recuperando as forças no descanso, onde deixa correr livremente a imagem das coisas obtidas pelos sentidos, e o faz no sono e nos sonhos. Através do exercício, movimenta-se prazerosamente, compondo a harmonia dos membros. Enquanto possível, procura a união dos sexos, e da natureza de dois faz uma só, no amor e na sociabilidade. Não só gera filhos, como os abriga, protege e alimenta. Acostuma-se ao meio ambiente, e às coisas que lhe sustentam o corpo, das quais dificilmente se quer afastar, como se fossem uma parte sua. E à força do costume, que nem a separação das coisas impede, chama-se memória (sensível).

Ainda assim, ninguém pode negar que os irracionais também fazem todas estas coisas sensíveis (vida sensitiva).

Terceiro grau

Suba mais um grau, e chegue ao terceiro, este próprio do homem. Pense na lembrança de coisas inumeráveis, não decorrentes apenas do costume, ou dos hábitos repetidos, mas da intenção aplicada nas coisas intencionalmente pretendidas, e na conservação de tantas coisas obtidas. São muitas variedades de artes e técnicas, no cultivo dos campos, na construção de cidades, e realizações de todos os tipos de grandezas produzidas. Invenção de tantos signos representativos, na escrita, nos gestos e na palavra proferida. Em todos os sons criativos, como na pintura e na escultura, na variedade de idiomas, nas instituições sociais, em tanta coisa nova surgida sempre, como na recuperação de outras. Na variedade de livros, e em todos os monumentos erguidos e entregues ao cuidado das gerações futuras. Na variedade de ocupações, nos poderes constituídos, nas honras e dignidades, seja na família como na sociedade. Nas cerimónias profanas e sagradas, na paz e na guerra, e tudo produzido pela humana potência de raciocínio e imaginação. Pense na caudalosa produção oratória, na arte poética, e muitas outras criações destinadas à diversão, aos desportos, à prática musical, a precisão da arte de calcular, e as conjecturas do futuro a partir das realizações do presente.

Grandes são estas coisas próprias somente do ser humano. Ainda assim, serão comuns aos estudiosos e aos ignorantes, aos bons e aos maus.

Quarto grau

Passe ao quarto grau, onde começa a bondade e o louvor verdadeiro. Aqui a alma ousa sobrepor-se não somente ao corpo — que é parte integrante do universo — mas ao mesmo universo. Não considera coisas suas os bens deste mundo, aprende a estimar sua potência e beleza acima destes bens, pois distingue os valores, e menospreza os bens apenas terrenos. Quanto mais aproveita o uso destes bens, tanto mais deles se afasta, libertando-se de toda a imperfeição, fazendo-se mais pura e mais perfeita, fortificando-se contra tudo o que pode afastá-la do seu propósito e decisão. Aprecia o convívio social, não deseja a outrem o que não quer para si mesma, obedece à legítima autoridade e aos preceitos dos mais sábios, reconhecendo que Deus fala por meio deles.

Nesta nobre actividade da alma existe ainda muito esforço e muita luta contra os empecilhos e seduções do mundo. No mesmo esforço pela sua purificação, existe ainda um certo medo da morte, pequeno às vezes, e muito grande em certos casos. Mas deve crer seguramente que todas as coisas estão sob a guarda e providência justa de Deus, e não há morte acontecida sem justiça, mesmo quando causada pela maldade humana (e somente às almas inteiramente purificadas é dado ver como isso é verdadeiro). Mas se teme a morte a este ponto, já estando no quarto grau, ou será por ter uma fé ainda fraca na providência justa, ou por menor tranquilidade interior — necessária para entender o que parece difícil — ou porque a tranquilidade é perturbada pelo medo.

Progredindo neste grau, ela conhece sempre mais a diferença entre a alma purificada e a pecadora, e tanto mais receia que, deixando esse corpo, menos a possa Deus suportar machada, que ela a si mesma nesse estado. E não há nada mais difícil que temer a morte e afastar as ciladas do mundo, como exigem as situações perigosas decorrentes.

Mas é tão grande a alma, que pode fazer tudo isso com a protecção de Deus sumo e verdadeiro, cuja justiça conserva e governa o universo. E tal justiça conservadora faz com que as coisas não somente existam, mas existam numa forma que não pode ter outra melhor.

Encomenda-se a Deus, piedosa e confiante, para que Ele ajude seu aperfeiçoamento, no difícil trabalho da purificação.

Quinto grau

Uma vez chegada ali, isto é, estando a alma livre de toda imperfeição, e purificada de seus pecados, alegra-se finalmente nela mesma, nada mais teme, nem se intranquiliza por coisa alguma, a menor que seja, nos assuntos interiores.

Este é o quinto grau. Uma coisa é procurar a pureza de coração, outra coisa é já ter atingido esse estado. Coisa distinta é a acção com que ela mesma se purifica do mal, outra coisa é não consentir mais no pecado.

Nesse estado ela pode entender plenamente sua grandeza, e, estando convencida, tender realmente para Deus, com imensa e inaudível confiança, ou seja, tender à contemplação mesma da verdade, e ao altíssimo e secretíssimo prémio pelo qual se esforçou tanto.

Sexto grau

Mas a tendência a compreender aquilo que realmente é a alma, e o é de modo mais sublime, vem a ser também a mais alta expressão da alma, e nada existe mais perfeito, melhor e mais correcto. Este é o sexto grau de sua actividade. Uma coisa é purificar o olhar da mente, para não olhar inútil e temerariamente, na visão errada. Outra coisa é conservar e reafirmar a sua integridade moral. E outra ainda é dirigir o olhar da mente de modo sereno e adequado ao que deve ser visto.

Os que tentam fazer isso sem antes estarem purificados e íntegros são ofuscados pela mesma luz da verdade, a ponto de desacreditarem em algo de bom, e na mesma verdade. E censurando a medicina da purificação, refugiam-se em alguma paixão ou prazer miserável, nas trevas que esta enfermidade os obriga. E por isso diz o profeta muito acertadamente e por divina inspiração: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em minhas entranhas o espírito de rectidão” (Sb 50,12).
Entendo que espírito de rectidão é o que impede a alma de se desviar e falsear na procura da verdade. E ele não se renova se ela antes não tiver a pureza, ou seja, se o pensamento não se afasta antes de toda paixão, purificando-se do ranço das coisas mortais.

Sétimo grau

Certamente é a mesma visão e contemplação da verdade o que constitui o sétimo grau, o mais elevado grau da alma, e já não é um grau, é certa mansão ou morada onde se chega através dos graus.

E nem sei com que palavras dizer das alegrias do bem supremo e verdadeiro, ou que inspiração terá a alma em sua serena eternidade. Grandes almas e de insuperável santidade falaram nisso, quando julgaram oportuno. Cremos que também viram tudo isso, e continuam vendo eternamente.

Ouso dizer isso de modo claro. E se nos conservamos no rumo que Deus manda seguir, e ali mantivermos a constância, chegaremos pelo poder divino à Sabedoria de Deus, Virtude de Deus, suprema causa e supremo autor, princípio supremo de todas as coisas, seja como for o modo que usamos para falar de algo tão elevado.

Entenderemos então como são verdadeiras as coisas nas quais nos mandaram crer, e como a Igreja nos alimentou saudavelmente como nossa mãe, e qual o proveito do leite da doutrina que São Paulo diz ser dado aos pequenos (1Cor 3,2). Quando alguém ainda precisa do leite materno, é útil receber tal alimento. Seria vergonhoso depois de crescido. Desprezá-lo quando se precisa dele é lamentável. Criticar o alimento ou detestá-lo, é criminoso e ímpio. Porém, conservar e distribuir convenientemente o alimento, é louvável prova de amor.

Veremos também que a natureza corpórea sofre mudanças e dificuldades, obedecendo neste mundo à lei divina, mas cremos na ressurreição da carne, na qual alguns acreditam muito pouco, e outros negam, mas a temos como absolutamente certa, mais que a certeza de que o sol do ocaso nascerá novamente no outro dia.

Mas existem os que ousam fazer troça da humanidade de Cristo, assumida pelo poderoso, eterno e incomutável Filho de Deus. E a estes desprezamos, como a crianças que, vendo um artista que reproduz imagens gravadas, imaginam que só podemos pintar uma figura humana copiando de uma outra.

É tão grande a alegria de contemplar a verdade, seja sob que aspecto a contemplemos, é tamanha a perfeição, a fé inabalável nas coisas verdadeiras, que ninguém suporá ter sabido realmente alguma coisa ante, ao supor saber algo, sem ter contemplado a verdade ela mesma.

E para que a alma não seja impedida de se unir completamente à verdade, desejaria então — como recompensa suprema — a morte que antes temia, ou seja, desligar-se totalmente deste corpo.

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